quarta-feira, 24 de agosto de 2016

Há momentos na vida...


Há momentos na vida...

Há momentos na vida que parecem um sofrimento sem fim ou até mesmo que o mundo se acabou para nós, o que seria ainda pior. Mas no dia seguinte o sol está lá, brilhando, a lembrar-nos da impermanência das coisas, da impermanência de nós próprios. Invistamos, pois, no melhor dos fluxos, esmerando a nossa existência com alegria e gratidão. Amar a vida é a receita para todos os males e dores, amar a vida liberta de nós mesmos.

FMV, professor

Post Scriptum

Parábola do Guardião do Mosteiro

Código de Honra das Mulheres Celtas
http://codigodehonradasmulheresceltas.blogspot.com 

sexta-feira, 7 de junho de 2013

Almas...


ALMAS PERDIDAS EM CORES 

Flávio Marcondes Velloso
  
 Todos nascemos na Terra com a "missão" de sermos felizes. Elegemos valores e damos a nossa vida por eles. Aqui entra também a falta de valores, como uma alternativa muito praticada.

 Atrás de tudo isso o que está, qual seria a motivação última? Por que queremos ser felizes e achamos tão difícil encontrar a verdadeira felicidade? De fato, quem somos nós? O que queremos?

 Se repetirmos os erros de sempre, colheremos os resultados de sempre, não nos libertando da roda da vida, de sofrimento e de dor. Mas a oportunidade que temos é imensa. Hoje podemos ser verdadeiros. Hoje podemos começar por nós mesmos, sendo verdadeiros conosco próprio. Porém, quantos de nós o somos?

 O que trazemos em nossa bagagem quando nascemos? O que recebemos de nossos pais, de nossa família, enquanto crescemos? Como se forma a nossa "personalidade"?

 Quando temos medo da vida, medo de viver, a quem ou a que recorremos? Quais as promessas que não cumprimos, que estamos deixando de cumprir? Quais as falhas que cometemos, que estamos cometendo?  A fim de nos firmarmos, do que somos capazes? Mas nos firmarmos em quê, para quê?

 Como usamos o poder, quando o detemos? Como usamos a beleza, quando a possuímos? Como usamos as riquezas, que pensamos ser para nosso gozo, quando vêm para nós? 

 A luxúria. Os homens, quantas mulheres podemos ter? As mulheres, quantos homens podem ter? O que nos saciará? O que não se justificaria em uma sociedade doente? Do que temos que nos privar? Somos instrumentos de quê? A quem ou a quê servimos?

 Quem pensa que se encontrará fora da verdade? O que é a verdade?

 Se nós não eliminarmos nossas mazelas, nossos infortúnios, nossos erros enfim, aquilo que sabemos não ser adequado, jamais teremos paz, jamais teremos felicidade.

 Para alcançar um estado de felicidade, de paz interna, temos que iniciar agora, aqui mesmo, uma quebra de padrões, dos velhos padrões a que nos agarramos por inúmeros motivos, mas que obviamente não nos preenchem, nunca nos preencheram, nunca nos preencherão.

 A felicidade é cara, a paz é cara. Quando não somos verdadeiros a partir de dentro, para nós e para o Universo, não estaremos no caminho, ou melhor, continuaremos como almas perdidas atraídas pelas cores e os encantamentos da ilusão. Em desperdício de nós, em desperdício da vida de que dispomos.

Flávio Marcondes Velloso, professor, escritor, membro da Associação de Direito e Economia Europeia da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, do Instituto Pimenta Bueno da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, da União Brasileira de Escritores, fundador do Partido Budista Brasileiro, uma referência moral, virtual, autor de "Tribunal Internacional de Justiça. Caminho para uma Nova Comunidade", ISBN 85-86633-42-9 , de "Ensaios Jurídicos. Temas Inéditos", ISBN 85-86633-09-7, compreendendo "Direito de Ingerência por Razões Humanitárias em Regiões de Conflito. Corredores Humanitários", "Fidelidade Partidária, um Desafio à Democracia do Brasil", "Direito do Mar, Área, Partida para um Novo Direito Internacional", dentre outras publicações. Endereço eletrônico flaviomarcondesvelloso@gmail.com . Blogs  http://religionofthethirdmillennium.blogspot.com , http://budismonobrasil.blogspot.com ...

segunda-feira, 3 de junho de 2013

Não há...

"NÃO HÁ CARA METADE, ISSO É BOBAGEM. PODE HAVER DOIS INTEIROS, CONSCIENTES, MADUROS E RECIPROCAMENTE RESPEITOSOS, LEAIS, CÚMPLICES, HONESTOS, SINCEROS, VERDADEIROS." (FMV, Escritos Esparsos, 2013, http://fmarcondesvelloso.blogspot.com)

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Arriscada Aventura


"É verdade que as leis e os costumes sociais retiraram do matrimônio todo o seu sentido. Em primeiro lugar, a admissão do divórcio elimina a segurança na luta por manter o vínculo. Em segundo lugar, a aceitação social de 'devaneios' extramatrimoniais suprime a exigência da fidelidade. Por último, a difusão dos anticoncepcionais despoja os filhos de relevância e valor.

O que resta, então, da gran
deza da união conjugal? O que é feito da arriscada aventura que o matrimônio sempre foi? Para que passar pela igreja ou pelo juiz de paz? Assim vistas as coisas, teríamos de começar por dar razão àqueles que sustentam a absoluta primazia do 'amor' para depois lhes fazer ver uma coisa de capital importância.


'É impossível homem e mulher amarem-se, profundamente, sem estarem casados.' Ainda que possa causar um certo espanto, o que acabo de dizer não é nada estranho. Em todos os âmbitos da vida humana, é preciso aprender e adquirir competências. Por que teria de ser diferente no amor, que é simultaneamente a mais gratificante, a mais decisiva e a mais difícil das nossas atividades?

Jacinto Benavente afirmava que 'o amor tem de ir à escola', e é verdade. Para poder amar verdadeiramente é preciso exercitar-se, tal como é preciso temperar os músculos para ser um bom atleta.

O casamento nos capacita para amar de uma maneira real e efetiva. A nossa cultura não acaba de entender o matrimônio, mas o contempla como uma simples cerimônia, um contrato, um compromisso. Tudo isso é, sem chegar a ser falso, demasiado pobre. Na sua essência mais íntima, o ato de casar-se constitui uma expressão delicada de liberdade e de amor. O 'sim' é um ato profundíssimo, inigualável, mediante o qual duas pessoas se entregam plenamente e decidem amar-se mutuamente por toda a vida.

É amor de amores, amor sublime que me permite 'amar bem'. Como diziam os nossos clássicos, 'fortalece a minha vontade e habilita-a para amar em outro nível. Situa o amor recíproco numa esfera mais elevada. Por isso, se não me casar, se excluir esse ato de amor total, ficarei impossibilitado de amar de verdade o meu cônjuge', tal como alguém que não treina ou não aprende uma língua se torna incapaz de falá-la. 

À sua jovem esposa, que lhe tinha escrito: 'Esquecer-te-ás de mim, que sou uma provinciana, entre as tuas princesas e embaixadoras?', Bismark respondeu: 'Esqueceste que me casei contigo para te amar?' Estas palavras encerram uma intuição profunda: o “para te amar” não indica uma simples decisão para o futuro, inclusive inamovível, mas equivale, afinal de contas, a um 'para te poder amar' com um amor autêntico, supremo, definitivo... Impossível sem a mútua entrega do matrimônio.

Não se trata de teoria. O que acabo de expor tem claras manifestações no âmbito psicológico. O ser humano só é feliz quando se empenha em qualquer coisa de grande que, efetivamente, compense o esforço. O mais impressionante que um homem e uma mulher podem fazer é amar. Vale a pena dedicar toda a vida a amar cada vez melhor e mais intensamente. É, na realidade, a única coisa que merece a nossa dedicação. Tudo mais, tudo mesmo, deveria ser apenas um meio para o conseguir. 'No entardecer da nossa existência' – dizia um clássico castelhano – 'seremos examinados sobre o amor'. E sobre nada mais, acrescento eu.

Quando me caso, estabeleço as condições para me dedicar sem reservas à tarefa de amar. Pelo contrário, se simplesmente vivermos juntos, e ainda que eu não tenha consciência disso, terei de dirigir todo o esforço à 'defesa das posições alcançadas', a 'não perder o que foi ganho'.

Tudo, então, torna-se inseguro, a relação pode romper-se a qualquer momento. Se não tenho a certeza de que o outro se vai esforçar seriamente por amar-me e superar as fricções e conflitos do convívio cotidiano, por que terei de fazê-lo eu? Não posso 'baixar a guarda', mostrar-me de verdade como sou, pois vai que meu parceiro descubra defeitos 'insuportáveis' em mim e decida acabar com tudo?

Perante as dificuldades que, forçosamente, têm de surgir, a tentação de abandonar a relação conjugal está sempre muito próxima, pois nada impede essa deserção.

Em resumo, a simples convivência sem entrega definitiva cria um clima em que a razão fundamental e entusiasmadora do matrimônio – fazer crescer e amadurecer o amor e, com ele, a felicidade – se vê muito comprometida." 

(Tomas Granados)

domingo, 14 de novembro de 2010

O Amante...

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"O Amante divino é Espírito sem corpo, o Amante físico é um corpo sem Espírito, o Amante espiritual possui Espírito e corpo." (Ibn Arabi, in O Evangelho de Maria Madalena, por Jean-Yves Leloup, Ed. Vozes, 2006)
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sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Entrevista: Flávio Gikovate

"Não se precisa casar. Sozinho é melhor."

O psiquiatra decreta a morte do amor romântico e diz que a vida de solteiro é um caminho viável para a felicidade.

Duda Teixeira

"Para os meus pacientes, eu sempre digo: se você tiver de escolher entre o amor e a individualidade, opte pela segunda."

Com 41 anos de clínica, o médico psiquiatra Flávio Gikovate acompanhou os fatos mais marcantes que mudaram a sexualidade no Brasil e no mundo. Por meio de mais de 8.000 pessoas atendidas, assistiu ao impacto da chegada da pílula anticoncepcional na década de 60 e à constituição das famílias contemporâneas, que agregam pessoas vindas de casamentos do passado. Suas reflexões sobre o amor ao longo desse tempo foram condensadas no seu 26º livro, Uma História de Amor... com Final Feliz (v. postagem abaixo). Na obra, a oitava sobre o tema, Gikovate ataca o amor romântico e defende o individualismo, entendido não como descaso pelos outros e sim como uma maneira de aumentar o conhecimento de si próprio. Tendo sido um dos primeiros a publicar um estudo no país sobre sexualidade, atuou em diversos meios de comunicação, como jornais e revistas e na televisão. Atualmente, possui um programa na rádio, em que responde perguntas feitas por ouvintes. Aos 65 anos, ele atendeu a reportagem de Veja em seu consultório no elegante bairro dos Jardins, em São Paulo.

Veja - O senhor diria para a maioria das pessoas que o casamento pode não ser uma boa decisão na vida?

Gikovate - Sim. As pessoas que estão casadas e são felizes são uma minoria. Com base nos atendimentos que faço e nas pessoas que conheço, não passam de 5%. A imensa maioria é a dos mal casados. São indivíduos que se envolveram em uma trama nada evolutiva e pouco saudável. Vivem relacionamentos possessivos em que não há confiança recíproca nem sinceridade. Por algum tempo depois do casamento, consideram-se felizes e bem casados porque ganham filhos e se estabelecem profissionalmente. Porém, lá entre sete e dez anos de casamento, eles terão de se deparar com a realidade e tomar uma decisão drástica, que normalmente é a separação.

Veja - Ficar sozinho é melhor, então?

Gikovate - Há muitos solteiros felizes. Levam uma vida serena e sem conflitos. Quando sentem uma sensação de desamparo, aquele "vazio no estômago" por estarem sozinhos, resolvem a questão sem ajuda. Mantêm-se ocupados, cultivam bons amigos, lêem um bom livro, vão ao cinema. Com um pouco de paciência e treino, driblam a solidão e se dedicam às tarefas que mais gostam. Os solteiros que não estão bem são geralmente os que ainda sonham com um amor romântico. Ainda possuem a idéia de que uma pessoa precisa de outra para se completar. Pensam, como Vinicius de Moraes, que "é impossível ser feliz sozinho". Isso caducou. Daí, vivem tristes e deprimidos.

Veja - Por que os casamentos acabam não dando certo?

Gikovate - Quase todos os casamentos hoje são assim: um é mais extrovertido, estourado, de gênio forte. É vaidoso e precisa sempre de elogios. O outro é mais discreto, mais manso, mais tolerante. Faz tudo para agradar o primeiro. Todo mundo conhece pelo menos meia-dúzia de casais assim, entre um egoísta e um generoso. O primeiro reclama muito e, assim, recebe muito mais do que dá. O segundo tem baixa auto-estima e está sempre disposto a servir ao outro. Muitos homens egoístas fazem questão que a mulher generosa esteja do lado dele enquanto ele assiste na televisão os seus programas preferidos. Mulheres egoístas não aceitam que seus esposos joguem futebol. Consideram isso uma traição. De um jeito ou de outro, o generoso sempre precisa fazer concessões para agradar o egoísta, ou não brigar com ele. Em nome do amor, deixam sua individualidade em segundo plano. E a felicidade vai junto. O casamento, então, começa a desmoronar. Para os meus pacientes, eu sempre digo: se você tiver de escolher entre amor e individualidade, opte pelo segunda.

Veja - Viver sozinho não seria uma postura muito individualista?

Gikovate - Não há nada de errado em ser individualista. Muitos dos autores contemporâneos têm uma postura crítica em relação a isso. Confundem individualismo com egoísmo ou descaso pelos outros. São conceitos diferentes. Outros dizem que o individualismo é liberal e até mesmo de direita. Eu não penso assim. O individualismo corresponde a um crescimento emocional. Quando a pessoa se reconhece como uma unidade, e não como uma metade desamparada, consegue estabelecer relações afetivas de boa qualidade. Por tabela, também poderá construir uma sociedade mais justa. Conhece melhor a si próprio e, por isso, sabe das necessidades e desejos dos outros. O individualismo acabará por gerar frutos muito interessantes e positivos no futuro. Criará condições para um avanço moral significativo.

Veja - Por que os casamentos normalmente ocorrem entre egoístas e generosos?
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Gikovate - A idéia geral na nossa sociedade é a de que os opostos se atraem. E isso acontece por vários motivos. Na juventude, não gostamos muito do nosso modo de ser e admiramos quem é diferente de nós. Assim, egoístas e generosos acabam se envolvendo. O egoísta, por ser exibicionista, também atrai o generoso, que vê no outro qualidades que ele não possui. Por fim, nossos pais e avós são geralmente uniões desse tipo, e nós acabamos repetindo o erro deles.

Veja - Para quem tem filhos não é melhor estar em um casamento? E, para os filhos, não é melhor ter pais casados?

Gikovate - Para quem pretende construir projetos em comum – e ter filhos é o mais relevante deles – o melhor é jogar em dupla. Crianças dão muito trabalho e preocupação. É muito mais fácil, então, quando essa tarefa é compartilhada. Do ponto de vista da criança, o mais provável é que elas se sintam mais amparadas quando crescem segundo os padrões culturais que dominam no seu meio-ambiente. Se elas são criadas pelo padrasto, vivem com os filhos de outros casamentos da mãe, mas estudam em uma escola de valores fortemente conservadores e religiosos, poderão sentir algum mal-estar. Do ponto de vista emocional, não creio que se possa fazer um julgamento definitivo sobre as vantagens da família tradicional sobre as constituídas por casais gays ou por um pai e ou mãe solteiros. Estamos em um processo de transição no qual ainda não estão constituídos novos valores morais. É sempre bom esperar um pouco para não fazer avaliações precipitadas.

Veja - Que conselhos você daria para um jovem que acaba de começar na vida amorosa?

Gikovate - É preciso que o jovem entenda que o amor romântico, apesar de aparecer o tempo todo nos filmes, romances e novelas, está com os dias contados. Esse amor, que nasceu no século XIX com a revolução industrial, tem um caráter muito possessivo. Segundo esse ideal, duas pessoas que se amam devem estar juntas em todos os seus momentos livres, o que é uma afronta à individualidade. O mundo mudou muito desde então. É só olhar como vivem as viúvas. Estão todas felizes da vida. Contudo, como muitos jovens ainda sonham com esse amor romântico, casam-se, separam-se e casam-se de novo, várias vezes, até aprender essa lição. Se é que aprendem. Se um jovem já tem a noção de que não precisa se casar par ser feliz, ele pulará todas essas etapas que provocam sofrimento.

Veja - As mulheres são mais ansiosas em casar do que os homens? Por quê?
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Gikovate - As mulheres têm obsessão por casamento. É uma visão totalmente antiquada, que os homens não possuem. Uma vez, quando eu ainda escrevia para a revista Cláudia, o pessoal da redação fez uma pesquisa sobre os desejos das pessoas. O maior sonho de 100% das moças de 18 a 20 anos de idade era se casar e ter filho. Entre os homens, quase nenhum respondeu isso. Queriam ser bons profissionais, fazer grandes viagens. Essa diferença abismal acontece por razões derivadas da tradição cultural. No passado, o casamento era do máximo interesse das mulheres porque só assim poderiam ter uma vida sexual socialmente aceitável. Poderiam ter filhos e um homem que as protegeria e pagaria as contas. Os homens, por sua vez, entendiam apenas que algum dia eles seriam obrigados a fazer isso. Nos dias que correm, as razões que levavam mulheres a ter necessidade de casar não se sustentam. Nas universidades, o número de moças é superior ao de rapazes. Em poucas décadas, elas ganharão mais que eles. Resta acompanhar o que irá acontecer com as mulheres, agora livres sexualmente, nem sempre tão interessadas em ter filhos e independentes economicamente.

Veja - Como será o amor do futuro?

Gikovate - Os relacionamentos que não respeitam a individualidade estão condenados a desaparecer. Isso de certa forma já ocorre naturalmente. No Brasil, o número de divórcios já é maior que o de casamentos no ano. Atualmente, muitos homens e mulheres já consideram que ficarão sozinhos para sempre ou já aceitam a idéia de aguardar até o momento em que encontrarão alguém parecido tanto no caráter quanto nos interesses pessoais. Se isso ocorrer, terão prazer em estar juntos em um número grande de situações. Nesse novo cenário, em que há afinidade e respeito pelas diferenças, a individualidade é preservada. Eu estou no meu segundo casamento. Minha mulher gosta de ópera. Quando ela quer ir, vai sozinha. E não há qualquer problema nisso.

Veja - Quando duas pessoas decidem morar juntas, a individualidade não sofre um abalo?

Gikovate - Não necessariamente elas precisarão morar juntas. Em um dos meus programas de rádio, um casal me perguntou se estavam sendo ousados demais em se casar e continuarem morando separados. Isso está ficando cada dia mais comum. Há outros tantos casais que moram juntos, mas em quartos separados. Se o objetivo é preservar a individualidade, não há razão para vergonha. O interessante é a qualidade do vínculo que existirá entre duas pessoas. No primeiro mundo, esse comportamento já é normal. Muitos casais moram até em cidades diferentes.

Veja - É possível ser fiel morando em casas ou cidades diferentes?

Gikovate - A fidelidade ocorre espontaneamente quando se estabelece um vínculo de qualidade. Em um clima assim, o elemento erótico perde um pouco seu impacto. Por incrível que pareça, essas relações são monogâmicas. É algo difícil de explicar, mas que acontece.

Veja - Com o fim do amor romântico, como fica o sexo?

Gikovate - Um dos grandes problemas ligados à questão sentimental é justamente o de que o desejo sexual nem sempre acompanha a intimidade efetiva, aquela baseada em afinidade e companheirismo. É incrível como de vez em quando amor e sexo combinam, mas isso não ocorre com facilidade. Por outro lado, o sexo com um parceiro desconhecido, ou próximo disso, é quase sempre muito pouco interessante. Quando acaba, as pessoas sentem um grande vazio. Não é algo que eu recomendaria. Hoje, as normas de comportamento são ditadas pela indústria pornográfica e se parece com um exercício físico. O sexo então tem mais compromisso com agressividade do que com amor e amizade. Jovens que têm amigos muito chegados e queridos dizem que transar com eles não tem nada a ver. Acham mais fácil transar com inimigos do que com o melhor amigo. Penso que, com o amadurecimento emocional, as pessoas tenderão a se abster desse tipo de prática.

Veja - As desilusões com o primeiro casamento têm ajudado as pessoas a tomar as decisões corretas?

Gikovate - No início da epidemia de divórcios brasileira, na década de 70, as pessoas se separavam e atribuíam o desastre da união a problemas genéricos. Alguns diziam que o amor acabou. Outros, o parceiro era muito chato. Não se davam conta de que as questões eram mais complexas. Então, acabavam se unindo a outras pessoas muito parecidas com as que tinham acabado de descartar. Hoje, os indivíduos estão mais críticos. Aceitam ficar mais tempo sozinhos e fazem autocríticas mais consistentes. Por causa disso, conseguem evoluir emocionalmente e percebem que terão que mudar radicalmente os critérios de escolha do parceiro. Se antes queriam alguém diferente, hoje a tendência é buscarem uma pessoa com afinidades.

Veja - O senhor já escreveu colunas para jornais, revistas, atuou na televisão e agora tem um programa na rádio. O senhor se considera um marqueteiro?
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Gikovate - Sempre gostei de trabalhar com os meios de comunicação. Psicologia não é assunto para especialistas, mas de todo mundo. Faço essas coisas também porque é uma forma de entrar em contato com um público diferente do que eu encontro normalmente. Na rádio, respondo perguntas de gente tacanha, que jamais teriam condição de pagar uma consulta. Estão em um outro patamar financeiro. Mas o que dizem é ouro puro. As colunas e programas de rádio que eu faço não me trazem clientes. Às vezes, só atrapalham. Em 1982, aceitei trabalhar com o Corinthians. Era a democracia corinthiana. Foi um balde de água fria na clínica. Imagine só, o Corinthians! Não foi o tipo de notícia que meus pacientes gostaram de ouvir. Eu fiquei lá dois anos. Meu pai ficava chocado com essas coisas, porque naquele tempo médico de bom nível não fazia essas coisas. Não estava nem aí. Quando eu me interesso por alguma coisa, eu vou. No mais, se eu fosse um simples marqueteiro, não teria durado 41 anos.

Veja - Apesar de todo esse tempo de clínica, o senhor atuou sozinho, longe das universidades. Por quê?

Gikovate - O mundo acadêmico está cheio de papagaios, que repetem fórmulas prontas. Citam sempre outros pensadores, mas nunca vão a lugar algum. Não têm coragem para isso. Esse universo, do qual eu acabei me afastando, é extremamente conservador. Não são eles que produzem as novas idéias. Muitos fingem que eu não existo. Diziam à pequena que eu era um cara muito pragmático, que levava em conta muito os resultados, o que é verdade. Os que mais gostam do que eu faço não são da minha área. São os filósofos, como o Renato Janine Ribeiro e a Olgária Matos. De minha parte, eu sempre fugi dos rótulos. Não me inscrevi membro da Sociedade de Psicanálise. Não sou membro de qualquer sociedade dogmática. Não sou sócio de nenhum clube. Sou uma pessoa de mente aberta. Nunca quis discípulos. Os meus discípulos, se um dia existirem, pensarão por conta própria. Se tiverem um monte de opiniões diferentes das minhas, será ótimo.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Maneiras de...

"MANEIRAS DE AJUDAR CONVERSANDO, ELIMINANDO DISCÓRDIAS, ELIMINANDO MÁGOAS. MANEIRAS DE AJUDAR CURANDO RESSENTIMENTOS, COMPREENDENDO, TOLERANDO, PERDOANDO. TUDO AJUDA. TUDO É BOM." (FMV, Escritos Esparsos, 2009, http://fmarcondesvelloso.blogspot.com)